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Confidências da Carne

Por indicação de uma amiga, companheira nos caminhos teóricos da Análise de Discurso, comprei o livro “Confidências da Carne: o público e o privado na enunciação da sexualidade“, do autor Pedro de Souza*. Sei que o blog não é acadêmico, mas é uma obra que vale a pena circular na internet, por sua referência à sexualidade.

O livro é fruto de pesquisa acadêmica, em que o autor buscou examinar, discursivamente, o problema da constituição e expressão da subjetividade na história do movimento homossexual na década de 1980.

Em sua investigação o autor analisa as cartas pessoais enviadas ao SOMOS – Grupo de afirmação Homossexual, e, segundo o próprio autor, o objetivo central da palavra é “tomar  essas formas de falar de si como perspectivas em que embrenham as palavras num jogo de subversão e captura em dado contexto de produção de sentidos.”

O material analisado não é novo. O livro também não, foi publicado 1997, pela editora da Universidade Estadual de Campinas. Mas as análises, mesmo com as especificidades da escrita acadêmica com suas inúmeras exigências, são ótima fonte de reflexão sobre a subjetividade dos sujeitos homossexuais, como se fosse possível compreender, minimamente, o modo como o sujeito homossexual se relaciona com a sociedade, com a história e, sobretudo, como ele encontra, nas cartas analisadas, formas de resistência.

Análises consistentes, com recorrência aos trabalhos de Michel Foucault na área da sexualidade, citações marcantes, o autor mobiliza o complexo universo homossexual na sua relação com o poder, com a interdição, com a exposição e o silenciamento,  como nessa passagem em que Souza se reporta, já no capítulo de conclusão, à pesquisa realizada por Foucault em seu trabalho “La vie des hommes infâmes” :

(…) Foucault pretendeu, ao mesmo tempo, analisar as relações entre o poder, na sua forma política, e o discurso, e trazer ao âmbito da história a vida anônima e insignificante daqueles que, na perspectiva discursiva do poder, se tornaram infames por seus pequenos delitos cotidianos. Vê-se logo que se trata de relatos em que as exigências individuais só vêm à tona na fala de outros que denunciam suas infrações. É portanto através de discurso alheio que tais vidas podem ocupar o turno da fala, sob o crivo do poder institucional que lhes outorga sentido. Vale mais explicitar este aspecto fundamental na explanação do próprio autor.

Momento importante, aquele em que uma sociedade atribui palavras, maneirismos e grandes frases rituais de linguagem, à massa anônima do povo para que possa falar de si mesmo – falar publicamente e sob a tripla condição de esse discurso ser dirigido e posto a circular no interior de um dispositivo de poder bem definido, de fazer aparecer o fundo até então quase imperceptível das existências e de, a partir dessa guerra ínfima das paixões e dos interesses, dar ao poder a possibilidade de uma intervenção soberana. (Michel Foucault, 1977 – “La vie des hommes infâmes)

O livro é uma leitura possível a todos – mesmo aos que não tem afinidade com os pressupostos teóricos da análise de discurso francesa, que sustentam a pesquisa que gerou o livro – principalmente aos que desejam compreender um pouco mais o universo ainda hoje silenciado da homossexualidade.
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* Pedro de Souza é professor da Universidade Federal de Santa Catarina e, estará em Maringá-PR, durante a 2º JIED – Jornada de Estudos do Discurso, onde participará da mesa redonda intitulada “O Corpo como materialidade discursiva”, que ocorrerá em 29/03/2012, na Universidade Estadual de Maringá.
Literatura

A mulher do próximo!

A Mulher do próximo é, muitas vezes, desejada.  Tanto que o fato foi previsto entre os dez mandamentos da “Lei de Deus”. Mas, lá não se falou de muitas coisas. Inquietações e vivências que se amarram ao mandamento que impede a cobiça do alheio. Tais inquietações, no entanto, se presentificam no poema de Sérgio Kohan: A mulher do próximo!

Para suscitar no seu espírito tais inquietações ” E se …?” publicarei, então, neste final de domingo, o poema, em texto e em vídeo (com a narração sensacional de Antonio Abujamra) – poema inicial de Fernando Pessoa poema final de Sérgio Kohan.

“ ‘Não desejarás a mulher do próximo!’.
E a mulher do próximo pode me desejar?
E se desejo o próximo ou se ele me deseja?
E se o próximo não deseja a mulher dele?
E se a mulher do próximo não deseja a ele?
E se os três nos desejamos?
E se ninguém deseja ninguém?
E se minha mulher deseja a mulher do próximo?
E por que não o próximo?
E se o próximo deseja minha mulher?
E se eu desejo a minha mulher e a do próximo?
E se ambas me desejam?
E se todos nos desejamos?
Sempre aparecerá alguém para dizer:
‘Vamos parar por ai, pára por ai
Não desejarás, não desejarás e ponto final’ ”.

(Sérgio Kohan)

Literatura

João que amava Tereza…

Releitura amorosa e sexual do poema do Drummond…

De autoria do talentoso Custódio. Disponível em www.custodio.net

Atualidade Literatura

O nome da coisa: sobre xoxotas, xerecas e perseguidas

A psicóloga, sexóloga e professora Eliane Maio, da cidade de Maringá-PR, publicou em 2011 um livro intitulado “O nome da coisa”. Resultado de sua pesquisa de doutorado sobre os nomes “jocosos” que homens e mulheres atribuem aos órgãos sexuais feminino e masculino.

A pesquisa foi desenvolvida pela autora em seis estados brasileiros e ouviu mais de 4.900 homens e mulheres, revelando a irreverência e repressão com a qual o assunto é tratado.

Como na literatura e na sociedade brasileira de forma geral, o pênis, segundo a autora, tem apelidos que demonstram conotações de força, virilidade e violência. Por outro lado, a vulva tem muitos nomes que simbolizam desprezo e diminutivos. O que não é de espantar, já que a repressão sexual também se fez pela forma como se “chama a coisa”.

A autora deu uma agradável entrevista ao Jô Soares, em maio deste ano. Assista, leia e confesse: qual é o nome da tua/teu? O da minha é “inconfessável”.

O livro foi publicado pela Editora Unicorpore e pode ser adquirido no site da editora: O Nome da Coisa

Arte Literatura

Sexo, suor e filosofia!


Por reação a oposição binária corpo-alma o artista francês Pascal Lièvre teve a ideia de fabricar cuecas bordadas com nome de filósofos famosos. Após a confecção das peças as cuecas foram tema de desfiles e de ensaio fotográfico, feito pelo artista. No ensaio os modelos posaram com as cuecas bordadas e um livro do filósofo na mão.

Eu quis pôr em cena uma nova geração de homens que gostam da filosofia. Eu fotografei homens com ereção lendo um livro do mesmo filósofo bordado em sua cueca. As fotos foram expostas na La Flatland Gallery d’Utretch.  Depois eu decidi, com minha curadora Vanessa Quang, enquadrar as cuecas que haviam sido utilizadas para a série fotográfica e vendê-las. “

Muitas pessoas me contataram para saber onde poderiam achar as cuecas, porque elas queriam  comprá-las. Eu decidi que deveria responder à demanda, mas gostaria de guardar o trabalho artístico e não apenas me lançar a uma superprodução, já que não sou um fabricante de cuecas, mas sim um artista…”

A coleção possui cerca de 100 cuecas, e é vendida pela Internet. Mas, não consta entre os filósofos o nome de Platão, por exemplo. O artista prefere filósofos como Deleuze, Freud, Foucault e principalmente Nietzsche que, para ele, marca uma verdadeira mudança na história da filosofia. Para ele tudo começa com Nietzsche e com esta declaração em Zaratustra:

“Eu sou um corpo completo e não outra coisa; a alma não é uma palavra para uma parcela do corpo”. Nietzsche me parece ser o filósofo da ruptura, ele coloca em questão a descontrução da metafísica , que põe fim a esta separação do corpo com alma ou espírito.”

Em homenagem à Nietzsche, Pascal Lièvre lança posteriormente várias atividades artísticas que consistem, com humor, em usar seu corpo para melhor pensar na relação dos corpos: em 2010, ele criou uma performance intitulada Aeróbica Nietzsche em salto, que consiste em colocar sapatos femininos para fazer ginástica em sob salto agulha.  Titubeando um pouco na ponta dos pés, eles sincronizam seus movimentos aos de Pascal Lièvre, disfarçado de professor de ginástica… E um, e dois! Eles executam os gestos com muita dedicação, suando nas lindas camisetes rosas que deixam a performance bem humorada.

Você deseja a filosofia? Você deve beber sua essência, responde Pascal Lièvre, que passa sua mensagem:

“…pode até existir corpos que não pensam (muitos), mas não existe pensamento sem corpo. Sem corpo, não pensamos mais, estamos mortos.”

Literatura

Sexo, Sexualidade e História

Descobri recentemente um livro maravilhoso que, mesmo não sendo especificamente uma leitura sobre sexo ou sexualidade,  indico – para os casados e não casados :  “A História da esposa: da Virgem Maria a Madonna”, de Marilyn Yalom.

O livro oferece uma leitura importante e muito reveladora sobre as leis, práticas e costumes sociais que afetam e direcionam a vida de diferentes gerações de esposas. O mais interessante do livro é que através dele temos contato com nomes femininos que, através de suas incríveis experiências, se rebelaram contra as tradições de suas épocas. Para tanto utiliza-se de citações de diários, memórias, cartas.

Entre tais mulheres encontramos algumas famosas, outras anônimas e comuns, que, de diferentes maneiras lutaram contra as amarras de seu tempo e mudaram os rumos da instituição do casamento.

Como não poderia deixar de ser, contar a história das esposas não seria possível sem passar pela questão do sexo e da sexualidade na sociedade organizada, já que, como descreve muito bem Michel Foucault em sua obra sobre a História da Sexualidade, “o sexo é a causa de todos os fenômenos de nossa vida e também comanda o conjunto da existência social”.

Vale a pena ler os dois autores…

Para saber mais sobre a História da Sexualidade de Michel Foucault leia  mais aqui

Literatura

A Cama na varanda: sexo e relacionamentos

Há alguns dias uma amiga me indicou o Twitter de Regina Navarro.  Em sua bio ela escreve:

“Psicanalista e escritora, autora de A Cama na Varanda e mais nove livros sobre relacionamento amoroso. Colunista do IG e do jornal O Dia.”

Eu, particularmente, achei tudo o que ela escreve sensacional.  Sensível e com uma visão bastante singular sobre relacionamento e sexo, Regina é autora do livro ” A cama na varanda“.

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Um livro extraodrinário, que nos conta coisas como a história da sexualidade, o período paleolítico, o início do “culto ao falo”, casamentos, a influência da religião, Eva, Lilith (a primeira mulher de Adão), o grande perigo da Vagina, gays, lésbicas etc.

Uma leitura imperdível para aqueles que desejam conhecer a origem dos relacionamentos e compreender alguns conflitos atuais.

Além do livro recomendo a leitura da coluna da autora no IG, e mais especificamente o artigo O Prazer na dor, em que Regina entrevista Flávio Braga, autor de Sob Masoch – livro da editora Best Seller inspirado em Leopold Franz Johann Ferdinand Maria Sacher – Masoch, aristocrata e escritor austríaco (1836-1895). Masoch tornou-se célebre ao emprestar seu nome a uma perversão: o masoquismo.

Vale a pena ler.

Literatura

Autobiografia de uma pulga: obra erótica e (nada) católica

Acabo de concluir a leitura do maravilhoso livro Autobiografia de uma pulga, que ganhei de presente da editora  Tipos Móveis (empresa pioneira no ramo editorial, idealizada por Camila Kintzel, profissional que, como eu, tem um pé na Análise do Discurso).
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A leitura é fascinante e excitante, capaz de prender o bom leitor até o final. Toda a história é repleta de práticas sexuais variadas, que são originalmente narradas da perspectiva de uma pulga.  Perspectiva interessante, pois permite ao autor detalhar os fatos de uma forma bastante diferente e minuciosa.

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Em sua magnífica narração, a pulga, que no livro demonstra ter talentos e capacidades humanas como as do “pensamento e observação”, irá descrever as cenas da qual foi testemunha, iniciando o seu percurso erótico ao se “infiltrar” na saia de uma jovem de 14 anos, que inicia sua vida sexual bastante acalorada…

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Com uma trama nada católica, ou católica demais para os dias atuais (com tantos escândalos sobre pedofilia), a obra descreve cenas de sexo – em detalhes que só uma pulga poderia testemunhar – que, com toda a razão, a igreja não gostaria que fossem divulgadas por aí nos dias atuais.

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A obra, no entanto, não foi escrita hoje.  Trata-se de um título inédito em português, considerado um clássico da pornografia vitoriana. Publicada em 1885, anonimamente, sua autoria foi atribuída a um advogado inglês, chamado Stanislas de Rhodes.

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Segundo informações contidas no próprio livro, que traz em detalhes as condições de circulação e interdição da obra no período vitoriano (que reprimia fortemente a leitura de obras consideradas eróticas, embora tenha sido um período de fértil produção do gênero) o romance ocupou, “por suas peculiaridades e pela originalidade de sua narrativa”

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(…) uma posição ímpar em meio ao grande volume das obras que constituem a literatura libertina vitoriana. A obra é narrada em primeira pessoa por uma pulga que, por seu íntimo contato com a pele humana, consegue testemunhar atos praticados no mais absoluto segredo. (…) elenca uma grande variedade de práticas sexuais consideradas tabu pela rígida sociedade vitoriana a partir de uma perspectiva anticlerical. Tais características conferiram grande popularidade ao romance, que teve várias reedições, ao menos três continuações apócrifas e acabou por se tornar um clássico da literatura libertina. A tradução de Francisco Innocêncio transpõe com maestria as descrições explícitas, o humor anticlerical e o refinamento do estilo vitoriano. (Editora Hedra)

O livro é o sexto título de uma  série erótica da editora Hedra, que está montando um catálogo de literatura erótica e pornográfica em língua portuguesa, ainda pouco editada e conhecida pelo público brasileiro.

Os outros títulos da série erótica, para quem quiser acompanhar,  são: Sacher-Masoch – A vênus das pelesOscar Wilde – Teleny, ou o reverso da medalhaAdolfo Caminha – Bom criouloFrançois de Sade – O corno de si próprio e outros contos , Swinburne – Flossie, a vênus de 15 anos.

Desejo uma excitante leitura para você também!

Literatura

"A mulher de leão, mesmo sem fome, pega, mata e come!"

Ah, a poesia! Nada alegra mais o meu dia, nada me deixa mais feliz do que ler um belo poema, desses que falam com a gente, que botam a gente sorridente, que afirmam nossas impressões…

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Hoje descobri, pelo twitter, que a poesia completa de Vinicius está disponível em www.brasiliana.usp.br. Lá, uma obra maravilhosa: Um signo, uma mulher. A partir de cada signo o poeta define várias mulheres.

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Leonina que sou, liberal e antagônica que sou, que alegria! Que satisfação, quando li o poema da mulher de leão! Pura verdade poética!

LEÃO

A mulher de Leão
Brilha na escuridão.

A mulher de Leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.

A mulher de Leão não tem perdão.

As mulheres de Leão
Leoas são.

Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de Leão!

São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Igneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais.

(Vinicius de Moraes)

Literatura

Minha sexualidade é um crime!

Eles moram no Afeganistão, no Iemen, na Malásia ou na Jamaica… Eles pertencem a diferentes religiões: evangélicos, mulçumanos, católicos ou ateus…

O que eles tem em comum? São gays e são, igualmente, vítimas e testemunhas da discriminação.

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Graças a ajuda de alguns sites de encontros, Philippe Castetbon recolheu os testemunhos e as fotos de homens gays de 51 países (de A como Afeganistão a Z como Zimbabue), onde a homosexualidade é proibida por lei.

Condenados, excluídos, violentados, humilhados e, muitas vezes, mortos, eles falam sobre seus medos, sobre mentira e sobre as humilhação.

Cada um produziu um autoretrato original de sua vida no país, publicando, anonimamente, sua visão sobre a situação. A internet, nesse sentido, os ajuda a realizar as denúncias sem medo do reconhecimento e da punição.

Uma exposição sobre a liberdade de ser e de amar, que virou livro.

Les condamnés” (Os condenados), publicado pelas Edições H&O, estará nas livrarias européias a partir de 5 de fevereiro de 2010.

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