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Costumes

Parte 2- MASTURBAÇÃO:CULPAS, PECADOS E BLÁ BLÁ BLÁ

Para continuar no tema <<masturbação>>…

Uma herança biológica

Os estudos antropológicos indicam que, na maioria das sociedades humanas, independentemente dos princípios éticos, pelo menos alguns de seus membros se masturbam.

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A tendência para estimular os próprios órgãos genitais é uma capacidade que os indivíduos das sociedades civilizadas compartilham não apenas com os povos primitivos, como também com várias espécies de mamíferos.

Um dos objetivos do estudo da masturbação, nas várias culturas humanas e em outras espécies de mamíferos, é o de avaliar até que ponto alguns aspectos do comportamento sexual são transmitidos como parte da herança evolucionária entre as espécies.  Alguns estudos permitem, inclusive, concluir que alguns procedimentos adotados pelo homem em seu comportamento sexual – inclusive os considerados anormais pelos códigos morais de algumas religiões – são na verdade características básicas de todos os mamíferos.

Várias espécies de mamíferos adotam a masturbação como complemento ou até mesmo como substituto eventual do coito. Entre os macacos, verificou-se que os machos a praticam com mais freqüência do que as fêmeas.  Alguns zoólogos indicam que não só os primatas, mas outras ordens de mamíferos também se masturbam: ratos, coelhos, doninhas, cavalos, vacas, elefantes, cachorros, gatos, esquilos e porco-espinho.

E Freud, o que tem com isso?

Você conhece Marie Bonaparte? descendente do irmão do imperador Napoleão, princesa da Grécia e da Dinamarca, ela salvou a vida de Freud.

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Enquanto os nazistas estavam no poder, e, 1938 ela convenceu Freud a ir para o exílio com sua família e lhe adiantou o dinheiro da caução que os alemães chamavam de “taxa de saída”. Freud reembolsou este dinheiro mais tarde, uma vez em segurança para morrer de seu câncer (em 23 de setembro de 1939)… Quanto à Marie Bonaparte, esta não cessaria nunca de defender a obra de seu querido mestre: ela considerava Freud como o único psicanalista confiável e foi com ele que ela se consultou durante anos, em seu divã… Para seu infortúnio.

Seu infortúnio com Freud ocorreu porque – apesar de todas as teorias engenhosas que ele fez avançar sobre a noção de sonho ou do inconsciente – ele defendeu as idéias deploráveis sobre a sexualidade feminina. Deplorável? Não, pior. Segundo Freud, uma mulher que se uma mulher que se masturba na idade adulta não é uma verdadeira mulher. Sob a influência dessa teoria, Marie Bonaparte, que (como a maioria das mulheres) tinha dificuldades de gozar apenas com a penetração – operou seu sexo em várias ocasiões… É uma das primeiras mulheres no mundo a sofrer operações de cirurgia plástica genital. Para as vítimas de Freud, ser clitoridiana é ser frígida.

Convencida de que era anormal, a princesa dedicou toda a sua vida para “consertar” a vagina, que continuava surda as penetrações. Para superar esta “frigidez”, ela acreditava que faltava aproximar o clitóris da vagina… Em três ocasiões entre 1927 e 1931, a infeliz se fez mutilar, massacrar, por cirurgiões que não eram mais do que crianças de bisturi.  Freud queria que ela se “curasse” só pela psicanálise. Mas nada – nem facas, nem sofá – permitiram à Marie Bonaparte “tornar-se uma mulher de verdade.”

Em sua busca pelo prazer vaginal, a princesa irá encontrar inclusive outras “doentes” que, como ela, só obtinha o prazer pela estimulação do clitóris. Em 1929, em Berlim, ela escreve em um texto, intitulado Notas sobre a excisão, que ela conheceu uma jovem alemã “que sofria de masturbação compulsiva, que havia sofrido várias mutilações cirúrgicas sem sucesso”: a paciente cortou a glande clitoridiana… Sem resultado, é claro. Para gozar, ela continuava a acariciar esta zona, esfregando a cicatriz com desespero…

Em Médicos e sexualidades, Yves Ferroul, historiador de sexologia, nota que este modo de intervenção médica começa no século XVIII: primeiro colocamos anéis de metal no prepúcio dos meninos e nos grandes lábios das meninas, para que eles não tivessem relações sexuais antes da noite de núpcias. Um cinto de castidade radical. Mas, como a infibulação não impede as meninas de se tocar e algumas usam as presilhas para massagear seu sexo,  os cirurgiões, muito rapidamente, recomendavam a excisão. “Se o clitóris se revela uma fonte de excitação constante, devemos considerá-lo como uma doença, e remoção é legal”, explicavam sabiamente os doutores (que esqueceram de sugerir que cortassem a língua dos grandes comedores) …

Coisas do século passado?

Na Inglaterra nos anos de 1860, na Áustria, na França até o final do século XIX, depois nos Estados Unidos nas primeiras décadas do século  XX, a remoção do clitóris era moda.

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Alguns médicos cauterizavam com ferro quente. Outros queimavam a  vulva inteira com nitrato de prata … Vindo de Istambul o Dr. Demétrio Zambaco, um verdadeiro perverso, tortura duas meninas com indisfarçável prazer. O texto que ele apresentou na Academia de Medicina em 1882 não representou nenhum escândalo. Ele diz: “Eu queria começar a experimentação na pequena Y … (…) Em 8 de setembro, esta pobre criança era toda tremor. Ela me suplica para não queimá-la… (…) Em 11 de setembro, “Você não tem mantido a sua promessa, eu disse a ela, eu vou provar que você está errada… (…) Em 16 de setembro, “nova cauterização, eu aplico três pontos de fogo em cada lábio, e outro sobre o clitóris, para punir a sua desobediência eu cauterizei suas nádegas e costas com um grande ferro.”

Até 1920 (e mesmo depois) os pais tolos continuam a colocar em seus filhos luvas grossas, sem dedos, que eles prendiam firmemente aos pulsos. Depois disso, eles os ajeitavam em suas camas, bem fechados.  Nos internatos, supervisores cuidavam para que as crianças sempre dormissem com os braços acima da coberta. À noite, alguns meninos e meninas eram até mesmo enfiados em sacos que os transformam em múmias. Roupas reforçadas, revestida com couro na área genital também eram usadas durante o dia…

Em 1952, na primeira edição do Manual Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), para a Associação Americana de Psiquiatria, os comportamentos sexuais, como masturbação, homossexualidade, felação, cunnilingus e o nomadismo sexual foram classificados como desordem patológica e doença mental.

Novos conceitos

Atualmente os conceitos sobre a masturbação estão bastante mudados. A masturbação passou a ser aceita como uma etapa evolutiva entre o auto-erotismo da criança e a sexualidade do adulto.

investigações no campo da fisiologia sexual ajudaram a eliminar alguns mitos científicos. Um deles foi o mito de que a obtenção do orgasmo por masturbação, no sexo feminino, dependeria sobretudo da estimulação clitorídea e labial. Assim a resposta erótica se concentrou nas estrutras genitais externas.

Posteriormente pesquisadores americanos (William Masters e Virginia Johnson) afirmaram que os orgasmos femininos não deveriam ser divididos em clitorídeos e vaginais, pois constituem um reflexo que inclui um comportamento sensitivo do clitóris e uma resposta motora da vagina.

A idéia de que a masturbação pudesse conduzir a eventuais danos físicos ou mentais também sofreu uma revisão. No início do século XX, alguns médicos atribuíram “doenças terríveis” à prática da masturbação. Contudo, nas décadas de 30 e 40, autores como R.E. Dikerson e Havelock Ellis reconheceram que os primeiros haviam cometido evidentes exageros quanto aos efeitos da prática, mas advertiram que tudo era uma questão de quantidade, ou seja, não seria prejudicial se não fosse praticada em excesso. Como nunca se definiu exatamente quando a prática passava a ser excessiva, gerações continuaram sem saber se a freqüência com que a praticavam era maléfica ou não. Na verdade, até bem pouco tempo (e ainda hoje – apesar dos consideráveis avanços muitos ainda vêem a masturbação como tabu) continua a existir sanção, indireta e sutil, porém tão prejudicial para a personalidade quanto às condenações escancaradas nos períodos passados.

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