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Entre protestos homofóbicos e pênis devidamente armados. Aux armes, citoyens! Vive la France!

Na semana em que a França (aquela da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade) enfrentou protestos, com cerca de 800 mil pessoas, contra a votação do projeto em favor do casamento Gay, descobrimos uma ótima forma para os franceses (e quem mais do resto do mundo quiser) se manterem em posição de ataque.

A sociedade Keep Burning lançou uma linha de anéis penianos com formas sugestivamente mecânicas e frias. Dignas daqueles que vêem no sexo uma forma de “batalha”, uma batalha em que é preciso permanecer dura e corajosamente em pé!

Com manual inspirado na maquinaria das armas bélicas a marca expõe seu catálogo de produtos.

Inspirados no design nuclear ou industrial (armas e parafusos, uau!), os produtos em formas tubulares e de bombas são apresentados no site da empresa de forma bastante singular. Você não irá encontrar os anéis, por exemplo, em categorias comuns aos sites de produtos eróticos tradicionais. Vende-se anéis penianos como se vendesse armas de fogo! É isso mesmo, com nomes numéricos e abstratos como “B12 Energy Silicone”, “CK01” e coisas de lojas de peças e parafusos.

Segundo Olivier, criador da marca, os produtos não são feitos para qualquer público, eles são especialmente produzidos para aqueles que gostam de controlar suas sexualidade “com as próprias mãos”. “Nós nos dedicamos às pessoas que procuram objetos eficazes como as armas de fogo. Por isso os produtos remetem exatamente à essas fantasias de poder e desejo que as armas representam…”

Entre os objetos apresentados como obras de guerra os mais surpreendentes são os “penis-ring” (anéis penianos), os “ball-stretchers” (anéis de testículos) e os cockrings (anéis para testículos e pênis) que ligam os órgãos pela base.

Segundo os idealizadores a ideia de “torniquete”, proposta pelos anéis, cumpririam a promessa de manter o pênis ereto por toda a noite, já que “no comércio, a maioria dos anéis penianos são como elásticos de cabelo. São acessórios decorativos, enquanto os nossos conseguem cumprir a missão de manter o pênis ereto durante toda a noite.”, comenta Olivier. Tudo isso garantido porque os anéis cortariam o fluxo de sangue e manteriam a ereção com a mesma eficiência que as correias de borracha.

A ideia, é claro, não é nova, já que diferentes culturas, desde o século 17, inventaram os seus próprios “torniquetes” e anéis. O que a empresa faz, eficientemente, é atualizar a utilidade e a fantasia em torno do “poder” das armas, da “graxa” e da “gasolina”, que evocam os seus anéis. O design me pareceu “grosseiro”, mas eu não tenho pênis para armar e nem fantasio com o poder conquistado belicamente, mas, como pra tudo nesse ramo, há de haver os interessados.

Sendo assim, “aux armes, citoyens” do mundo! Peguem seus equipamentos! Só não se esqueçam de continuar defendendo a igualdade, porque ela ainda não foi conquistada e nem está garantida. Nem na França, nem aqui, nem ali, nem lá…


Com imagens do site Keep Burn.

Amizades masculinas

Outro dia li um artigo sobre homossexualidade que dizia que a homossexualidade entre as mulheres era mais fácil de ser dissimulada, uma vez que as mulheres teriam maior facilidade em demonstrar publicamente afeto e carinho por suas amigas, não sendo raro vermos amigas abraçadas, de mãos dadas, tomando banhos juntas etc.

Isso significa que os homens de nossa época não costumam demonstrar nesse termos “físicos” o afeto pelos amigos. Correto? Pode até ser, mas o fato é que nem sempre foi assim.

Coincidentemente essa semana eu também tive a grata surpresa de conhecer um site, interessantíssimo, chamado “The art of manliness“. A proposta do site é reviver “arte masculina perdida” e os artigos com ótima recuperação histórica, todos voltados para o homem, são realmente muito reveladores.

No site pude me deparar, por exemplo, com uma coleção de mais de 100 fotos que revelam o afeto masculino em fotografias vintage. As fotografias revelam inúmeras demonstrações de afeto, carinho e amizade entre os homens da época. Isso me fez lembrar sobre a “dissimulação” da homossexualidade feminina, da qual falava o artigo que mencionei acima. Se o artigo estava certo, será que para os homens daquela época era mais fácil exibir seu afeto pelos amigos do mesmo sexo?

Não sei, parece mesmo mais “aceitável” para nossa sociedade que duas mulheres em uma cama não sejam necessariamente lésbicas, mas dois homens vão “comentar”…

Os homens de hoje estão condenados, então, a só beijar e abraçar publicamente avós, mães, crianças e namoradas, caso contrário vão dizer “É muito gay!” ? Se é assim, essa é a prova de que um mundo machista não maltrata apenas as mulheres, mas é cruel também para os homens.

Por essas e outras é que a galeria do artofmanliness.com é muito rica em informações. Lá você verá homens de mãos dadas, um no colo do outro, na mesma cama e abraçados. Enfim, coisa linda de se ver! Ou será que amar o próximo continua sendo démodé?

Segundo diz o site “é uma pena que a homofobia desenfreada da nossa sociedade impeça os homens de hoje de se conectarem entre eles em um nível mais emocional e físico. Exceto quando estão muito bêbados!”

E você? Não é gay, mas já “curtiram com a sua cara” porque você tem uma fotinho no facebook agarrando aquele amigo querido? Manda a fotinho aqui pra mim, quem sabe eu faço outro artigo com o seu exemplo?

10 línguas pelo preço de uma!

“10 línguas pelo preço de uma” é uma das chamadas para o novo modelo do Sqweel 2 que estará nas lojas a partir de agosto.

O objeto está aí para nos lembrar como a mecânica está presente nos mais variados produtos eróticos, a serviço do prazer! E a inspiração mecânica vem de longe…

Em 2009, quando eu escrevi o artigo Sqweel: simulador de sexo oral, ele não vibra, mas gira… , falando do lançamento do primeiro Sqweel, um leitor comentou que “ainda preferia a sua língua para satisfazer a parceira”.  O comentário levanta uma questão sobre a relação sexo e macânica, aclamada por uns e criticada por outros.

Agnès Giard faz um retrospecto  do tema na literatura, apontando as principais discussões sobre a questão. Segundo a autora o “mecano-erotismo” é uma palavra inventada pelo sexólogo Magnus Hirschfeld no século XIX, para falar sobre a influência das primeiras maquinas a vapor e pedal. Os ritmos incansáveis – próximos da obsessão compulsiva que imitam o êxtase repetitivo de uma relação sexual sem fim.
De lá pra cá, cientistas , médicos, pesquisadores de diferentes áreas tem investigado a relação máquina-sexo e, entre eles, destacamos  Tomi Ungerer – filho de um relojoeiro astronômo –  que em 1969 fará uma crítica à mecanização do sexo e ao império do lucro aplicado ao orgasmo. Em “fornicon” você irá se deparar com seus desenhos,  que revelam uma estética tão cruel e gelada quanto as máquinas que eles denuncia.

No entanto, a crítica ao lucro e aos objetos eróticos também não são nenhuma invenção da roda. Enfim, Tomi Ungerer também não visava algum retorno com suas criações eróticas?

Sendo assim, seguimos inventando a roda, como alude a própria propaganda do Sqweel 2.


Cadernos pornográficos

O “Carnets Pornographiques” é um site colaborativo dedicado ao erotismo e pornografia.
Com uma abordagem e linguagem nada elitista e bastante direta tem o objetivo de fornecer conteúdo original e, acredite, o material disponibilizados não pode ser encontrado em nenhum outro lugar da rede.
Para seus autores nada é desprezível, degradante ou maléfico. Vale tudo, elegância, amor, doçura, dedos e bundas.
O site tem uma equipe permanente de ilustradores vários e conta com uma seção de “convidados”, para outros interessados poderem  participar enviando publicações.
Imagens disponíveis no site: http://www.carnets-pornographiques.com

O teu marido? Ele não te chupa não?

Um diálogo (incomum?). Um filmaço. Um vídeo de alunos do design.

Tipografia Cinética e uma interessante forma de imprimir vida à tipografia, ao som e… aos diálogos cotidianos.

Confidências da Carne

Por indicação de uma amiga, companheira nos caminhos teóricos da Análise de Discurso, comprei o livro “Confidências da Carne: o público e o privado na enunciação da sexualidade“, do autor Pedro de Souza*. Sei que o blog não é acadêmico, mas é uma obra que vale a pena circular na internet, por sua referência à sexualidade.

O livro é fruto de pesquisa acadêmica, em que o autor buscou examinar, discursivamente, o problema da constituição e expressão da subjetividade na história do movimento homossexual na década de 1980.

Em sua investigação o autor analisa as cartas pessoais enviadas ao SOMOS – Grupo de afirmação Homossexual, e, segundo o próprio autor, o objetivo central da palavra é “tomar  essas formas de falar de si como perspectivas em que embrenham as palavras num jogo de subversão e captura em dado contexto de produção de sentidos.”

O material analisado não é novo. O livro também não, foi publicado 1997, pela editora da Universidade Estadual de Campinas. Mas as análises, mesmo com as especificidades da escrita acadêmica com suas inúmeras exigências, são ótima fonte de reflexão sobre a subjetividade dos sujeitos homossexuais, como se fosse possível compreender, minimamente, o modo como o sujeito homossexual se relaciona com a sociedade, com a história e, sobretudo, como ele encontra, nas cartas analisadas, formas de resistência.

Análises consistentes, com recorrência aos trabalhos de Michel Foucault na área da sexualidade, citações marcantes, o autor mobiliza o complexo universo homossexual na sua relação com o poder, com a interdição, com a exposição e o silenciamento,  como nessa passagem em que Souza se reporta, já no capítulo de conclusão, à pesquisa realizada por Foucault em seu trabalho “La vie des hommes infâmes” :

(…) Foucault pretendeu, ao mesmo tempo, analisar as relações entre o poder, na sua forma política, e o discurso, e trazer ao âmbito da história a vida anônima e insignificante daqueles que, na perspectiva discursiva do poder, se tornaram infames por seus pequenos delitos cotidianos. Vê-se logo que se trata de relatos em que as exigências individuais só vêm à tona na fala de outros que denunciam suas infrações. É portanto através de discurso alheio que tais vidas podem ocupar o turno da fala, sob o crivo do poder institucional que lhes outorga sentido. Vale mais explicitar este aspecto fundamental na explanação do próprio autor.

Momento importante, aquele em que uma sociedade atribui palavras, maneirismos e grandes frases rituais de linguagem, à massa anônima do povo para que possa falar de si mesmo – falar publicamente e sob a tripla condição de esse discurso ser dirigido e posto a circular no interior de um dispositivo de poder bem definido, de fazer aparecer o fundo até então quase imperceptível das existências e de, a partir dessa guerra ínfima das paixões e dos interesses, dar ao poder a possibilidade de uma intervenção soberana. (Michel Foucault, 1977 – “La vie des hommes infâmes)

O livro é uma leitura possível a todos – mesmo aos que não tem afinidade com os pressupostos teóricos da análise de discurso francesa, que sustentam a pesquisa que gerou o livro – principalmente aos que desejam compreender um pouco mais o universo ainda hoje silenciado da homossexualidade.
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* Pedro de Souza é professor da Universidade Federal de Santa Catarina e, estará em Maringá-PR, durante a 2º JIED – Jornada de Estudos do Discurso, onde participará da mesa redonda intitulada “O Corpo como materialidade discursiva”, que ocorrerá em 29/03/2012, na Universidade Estadual de Maringá.

A mulher do próximo!

A Mulher do próximo é, muitas vezes, desejada.  Tanto que o fato foi previsto entre os dez mandamentos da “Lei de Deus”. Mas, lá não se falou de muitas coisas. Inquietações e vivências que se amarram ao mandamento que impede a cobiça do alheio. Tais inquietações, no entanto, se presentificam no poema de Sérgio Kohan: A mulher do próximo!

Para suscitar no seu espírito tais inquietações ” E se …?” publicarei, então, neste final de domingo, o poema, em texto e em vídeo (com a narração sensacional de Antonio Abujamra) – poema inicial de Fernando Pessoa poema final de Sérgio Kohan.

“ ‘Não desejarás a mulher do próximo!’.
E a mulher do próximo pode me desejar?
E se desejo o próximo ou se ele me deseja?
E se o próximo não deseja a mulher dele?
E se a mulher do próximo não deseja a ele?
E se os três nos desejamos?
E se ninguém deseja ninguém?
E se minha mulher deseja a mulher do próximo?
E por que não o próximo?
E se o próximo deseja minha mulher?
E se eu desejo a minha mulher e a do próximo?
E se ambas me desejam?
E se todos nos desejamos?
Sempre aparecerá alguém para dizer:
‘Vamos parar por ai, pára por ai
Não desejarás, não desejarás e ponto final’ ”.

(Sérgio Kohan)

João que amava Tereza…

Releitura amorosa e sexual do poema do Drummond…

De autoria do talentoso Custódio. Disponível em www.custodio.net

Ceci n´est pas um lubrificante

Isso não é um lubrificante, nem um creme antitranspirante, nem uma colônia, nem um cosmético qualquer. É um “hidratante íntimo”.  Agora, pelo menos, não precisamos esconder o nosso “hidratante íntimo” (rsss) no fundo do armário e nem pensar mil vezes onde levaremos o “bendito”, evitando aquela cara e risinho de inacreditável que as pessoas fazem quando você é pega naquela inusitada revista no  aeroporto…

Uma bela representação, como a tela de René Magritte, mas apenas uma representação.  Isso não é um lubrificante!

Sex e Cult, não?

O nome da coisa: sobre xoxotas, xerecas e perseguidas

A psicóloga, sexóloga e professora Eliane Maio, da cidade de Maringá-PR, publicou em 2011 um livro intitulado “O nome da coisa”. Resultado de sua pesquisa de doutorado sobre os nomes “jocosos” que homens e mulheres atribuem aos órgãos sexuais feminino e masculino.

A pesquisa foi desenvolvida pela autora em seis estados brasileiros e ouviu mais de 4.900 homens e mulheres, revelando a irreverência e repressão com a qual o assunto é tratado.

Como na literatura e na sociedade brasileira de forma geral, o pênis, segundo a autora, tem apelidos que demonstram conotações de força, virilidade e violência. Por outro lado, a vulva tem muitos nomes que simbolizam desprezo e diminutivos. O que não é de espantar, já que a repressão sexual também se fez pela forma como se “chama a coisa”.

A autora deu uma agradável entrevista ao Jô Soares, em maio deste ano. Assista, leia e confesse: qual é o nome da tua/teu? O da minha é “inconfessável”.

O livro foi publicado pela Editora Unicorpore e pode ser adquirido no site da editora: O Nome da Coisa

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